Taxas moderadoras afastam 1800 pessoas por dia das urgências

A questão é que para o governo, afastar doentes das urgências é uma meta alcançada, mas para os doentes, pode ser a diferença entre a vida e a morte. 
Fernando Leal da Costa, secretário de estado adjunto da saúde, pediu aos portugueses para evitarem adoecer, e eles obedeceram?
Quem se afastou das urgências? Quem realmente não está doente, ou quem não possui meios económicos, mesmo estando doente? 
Quantas vidas irão custar esta forma de desincentivar a ida a uma urgência?
Matar portugueses é bom para a economia, principalmente se forem idosos doentes e pobres. E eis que se impõe um modelo de sociedade que outrora todos abominávamos, e agora pacificamente, começamos a aceitar?

Onde ir buscar os 4 mil milhões exigidos pela troika. Terá de ser aos inocentes que se exige sacrifícios?

"O aumento das taxas moderadoras fez cair o número de pessoas que chegam às urgências hospitalares? Os números indicam que sim: há menos 1800 casos diários. 
O PÚBLICO passou um início de madrugada em dois dos maiores hospitais de Lisboa.
São 00h30. Hélder Paiva, 36 anos, sai das urgências do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, ainda apoiado no pé que não está lesionado. Sai acompanhado pela mulher.

Têm os olhos postos num papel e abanam as cabeças. Do atendimento não têm nada a apontar. “Demorámos menos de uma hora mas sinceramente não esperava pagar mais de 20 euros... Pensava que esse era o máximo da taxa moderadora e acho excessivo”, conta enquanto olha para a factura.
Desta vez ainda optaram por vir, mas admitem que com a crise, todas as decisões têm de ser ponderadas, mesmo na saúde. Até Julho, as urgências hospitalares em todo o país receberam menos 380 mil casos do que em igual período de 2011 – o que representa uma queda de quase 10%. 
Uma moderação que foi pensada e introduzida em Janeiro, com o aumento das taxas moderadoras para vários serviços de saúde, nomeadamente para as urgências hospitalares, que passaram a ter um preço-base de 20 euros, quando antes custavam 9,60 euros. Os doentes comparticipam ainda o pagamento dos exames e análises até uma factura máxima de 50 euros, incorrendo em multas que vão até cinco vezes o valor em falta se não o pagarem em dez dias. Contudo, há várias isenções previstas: insuficiência económica, grávidas, crianças até aos 12 anos, algumas doenças crónicas e incapacidades acima dos 60%, entre outros motivos. Ao todo, no país 5,6 milhões de pessoas estão isentas.
Um dos objectivos das taxas é ajudar a retirar dos hospitais os casos que poderiam, por exemplo, ser resolvidos, nos centros de saúde. (...)Hélder Paiva recebeu uma pulseira verde, mas defende que se tivesse ido a um centro de saúde talvez não pudesse ser atendido àquela hora e tivesse de faltar ao trabalho no dia seguinte.
Às 23h54 chega um carro cheio com um doente a gemer de dores com uma cólica renal e a morder uma toalha. A família atabalhoa-se para o conseguir tirar do veículo, o segurança rapidamente disponibiliza uma cadeira de rodas. Em dois minutos é chamado para a triagem e passa para a sala de espera já com soro.
Alfredo José de Sousa, que já fez algumas recomendações ao Governo, nomeadamente a criação de isenções parciais. O provedor mostra-se particularmente preocupado com as pessoas com rendimentos pouco acima dos 628 euros (limite máximo para alegar insuficiência económica), propondo que os filhos também contem para a isenção nas taxas.
Já o presidente da Comissão de Reavaliação da Rede Nacional de Emergência e Urgência, José Artur Paiva, que recentemente propôs que o país passasse de 89 para 73 serviços de urgência, considera que a redução do número de episódios de urgência a nível nacional é “um bom indicador e positivo”. Significa que “as taxas moderadoras estão a conseguir regular a procura”. Porém, alerta que este sistema por si só não garante que os cidadãos que não precisavam deixaram de ir às urgências. “A redução é significativa nos verdes e nos azuis, mas não é aquela que seria expectável, e reduzir nem sempre é melhorar”, sublinha o também director do serviço de urgência do Hospital de São João, no Porto.

Para José Artur Paiva, os casos azuis e verdes a nível nacional ainda têm um peso muito grande. Em 2011 representavam cerca de 40% e não terão baixado para menos de 30% a 35%, diz. O PÚBLICO pediu dados ao Hospital de Santa Maria sem sucesso. “Com um sistema a funcionar harmoniosamente são casos que poderiam ter sido seguidos nos cuidados de saúde primários”, reforça, dando as unidades locais de saúde como "bom exemplo" de articulação entre hospitais e centros de saúde. Por isso, entende que a reforma deverá passar por criar condições nos centros de saúde para que existam mais consultas não programadas. E que se aposte também em soluções como a Linha Saúde 24, “que ainda tem uma subutilização”. De recordar que a procura da Linha Saúde 24 (808 24 24 24) cresceu cerca de 15% no primeiro semestre do ano, com um total de 450 mil chamadas.
Contas com a troika
A questão é que o aumento das taxas moderadoras para valores que representassem cerca de 2% do total do orçamento do sector fazia parte do acordo com a troika (Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu). Curiosamente, a receita a arrecadar com as taxas foi a primeira falha que o Ministério da Saúde teve de assumir com a troika, já que o valor previsto vai derrapar em 176 milhões de euros por a utilização dos serviços estar a ser inferior ao previsto, mesmo nos centros de saúde.
O sector vai conseguir apenas 164 milhões de euros com as taxas moderadoras, quando previa 240. Também para o ano a receita deverá ficar nos 190 milhões, em vez dos 290 que chegaram a ser avançados. Mesmo assim, o valor das taxas pagas pelos utentes até Julho ascendeu aos 93,6 milhões de euros e ultrapassou a totalidade do valor conseguido em 2011, que não foi além dos 90 milhões.

Mas um estudo realizado por Miguel Gouveia, da Universidade Católica, e por Margarida Borges, do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência da Faculdade de Medicina de Lisboa, apresentado na quarta-feira, também indica que é possível transferir 45% das urgências hospitalares para os centros de saúde, bem como um terço das consultas, o que permitiria uma poupança de 356 milhões de euros, mas apenas a longo prazo.
Não há dinheiro para táxis
São 01h20 quando deixamos as urgências de Santa Maria para nos encaminharmos de táxi para o Hospital de São José. Costuma transportar muita gente aqui do hospital?, perguntamos pelo caminho ao motorista António Costa, de 60 anos. “Acha que com a crise as pessoas têm dinheiro para andar de táxi? São cada vez menos as que apanhamos aqui. E olhe que são cada vez mais as que esperam pelas cinco e tal da manhã para voltarem a ter transportes públicos e irem para casa. É um roubo autorizado aquilo que nos estão a fazer”, responde indignado.

Pouco depois das 2h00 chega Sueli Lima, 30 anos, com um grupo de amigos aperaltados. Estavam no cinema quando ficou “indisposta e com dores abdominais”. Achou melhor vir ao mesmo hospital onde já tinha estado em Julho por alergias na pele depois de uma exposição ao sol. Em ambos os casos, pulseira verde. Agora foi surpreendida com o pagamento de 40 euros – 20 por esta vez e 20 que ainda não tinha regularizado do Verão. “Já viu o que é uma pessoa chegar aqui e largar assim 40 euros? Às vezes já compensa ir ao médico privado, mas como é de noite é mais prático. Ao centro de saúde não vou porque sou estrangeira e lá pedem-me uns 30 euros”, diz.
Segundo dados enviados ao PÚBLICO pelo Hospital de São José, esta unidade segue uma tendência contrária à do país. Na urgência polivalente foram atendidos 120.339 doentes entre Janeiro e Setembro, o que representa um crescimento de 0,8% face ao mesmo período de 2011, em que tinham sido atendidas 119.352 pessoas. Já em 2010, o hospital recebeu, nos primeiros nove meses, 114.524 casos. A administração não quis comentar os dados, mas desde Janeiro que o São José passou a acolher os casos que eram recebidos pelo Hospital Curry Cabral, que fechou as urgências no final de 2011.

Um dado mais importante diz respeito ao tipo de doentes que acorreram às urgências quanto ao “grau de prioridade”. Os doentes a quem foi dada uma pulseira laranja (muito urgentes) representaram 6,4% do total, o que significa que subiram 1,3% face a 2011. Já os com pulseira amarela (urgentes) subiram 14%, tendo um peso relativo de 38%. Por outro lado, os doentes com pulseira verde (pouco urgentes) ainda representam 51%, mas caíram 5%, e os doentes com pulseira azul (não urgentes) tiveram um peso de apenas 1% após uma queda de 18%.

O presidente da Comissão de Reavaliação da Rede Nacional de Emergência e Urgência reforça que esta é a tendência nacional, mas que importa adoptar mais estratégias e olhar para outros dados. No caso do seu hospital, o São João, o médico diz que o número de episódios de urgência também caiu, “mas mais importante é que temos vindo a conseguir reduzir o tempo de permanência de um doente no serviço de urgência e a reduzir as taxas de abandono, o que é possível porque temos um modelo com profissionais fixos”. Em média, os doentes estão três horas e meia nas urgências deste hospital, e o indicador europeu recomenda que o tempo esteja abaixo das seis horas.
Taxas são sobrecarga
Do lado do Movimento de Utentes dos Serviços de Saúde (MUSS), Carlos Braga diz que têm “recebido contactos de algumas pessoas que mostram o seu desagrado e preocupação” em relação aos novos valores das taxas moderadoras. O representante do movimento garante que a subida do valor está a levar a que cada vez menos pessoas recorram aos serviços de saúde, “adiando muitas vezes a decisão e agravando o estado de saúde com que acabam por chegar ao hospital”. “As taxas moderadoras, num momento como o país está, são uma sobrecarga e as pessoas têm medo do que vão pagar. Se de certa forma havia alguns abusos, a verdade é que agora são as pessoas com limitações económicas que ficam de fora e acredito que em 2013 a situação ainda vá piorar”, acrescenta.

São 2h37 quando mais alguns sacos de lixo saem das urgência e Elsa, de 74 anos, se debate com a cadeira de rodas do marido que traz na cabeça uma dezenas de pontos a remendar a queda caseira. Elsa pagou 20 euros da vinda à urgência mais 14 de uma TAC. “Sinceramente, acho que não se justifica. Ainda vai ser mais difícil convencer o meu marido a vir quando é preciso. Sabe como são os homens, não sabe?” (...) fonte


"Entre três mil e quatro mil doentes de cancro por ano não fazem tratamento de radioterapia devido à insuficiência deste tipo de equipamentos no País, segundo especialistas ouvidos pelo CM. Na União Humanitária dos Doentes com Cancro, são recebidos diariamente reclamações e protestos de doentes, que se queixam de esperar semanas ou meses por uma consulta de oncologia ou tratamentos.
A denúncia da insuficiência de equipamentos de radioterapia em Portugal surgiu ontem num estudo publicado na prestigiada revista científica ‘Lancet Oncology'.
Segundo a investigação, o nosso país tem uma taxa de 4,6 aparelhos de radioterapia por milhão de habitantes, um número abaixo da média europeia, que é de 5,3. Isto significa que 19 por cento dos tratamentos oncológicos não são realizados."  fonte (25/01/2013)


6 comentários:

  1. Realmente isto é vergonhoso, somos roubados de forma descarada. Vamos a uma consulta, pagamos 20€ mais medicamentos que sejam 30€, logo ali gasta-se 50€ em pouco tempo. Quando no fim do mês se recebe 500€ de salários. Acham que 20€ de consulta é compatível com os salários praticados em Portugal? Claro que não, estes meninos da troika quando falam dos aumentos das taxas moderadoras não ganham eles de salários 500€ senão não pensavam desta forma. Ora quando são os outros a pagar é aumentar, porque não lhes custa pagar. Estes governantes incompetentes e corruptos que não tem outro nome. Querem que os idosos morram, quem de facto devida era morrer a família inteira de políticos e ex-políticos.

    Fernando

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    1. Este assunto é de deitar as mãos á cabeça. Não se pode descer mais baixo que isto.

      E já aqui o disse e repito: Os políticos e deputados deviam ser obrigados a usar o SNS como outro cidadão qualquer.

      Só a tiro é que se pode lidar com estas ratazanas.

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  2. Vivemos consequências de um presente, pensado no passado, apenas como sendo a continuidade deste...
    No passado - há 40 anos - os idosos (com 50, 60 anos) morriam em silêncio porque não tinham qualquer acesso à saúde. Hospitais... SÓ nas grandes cidades.
    Ninguém protestava. Em silêncio, acabava.

    Com o 25 de Abril foi a loucura anárquica: planeamento de um sistema nacional de saúde? NUNCA EXISTIU!

    Cada autarca - em nome da demagogia local associada ao voto - berrava que a sua população tinha direito a um hospital - mesmo sem médicos, pois existiram dezenas de casos neste país de HOSPITAIS SEM MÉDICOS - e, ainda que a reduzida expressão demográfica da sua localidade, não produzisse impostos suficientes para pagar, sequer, os vencimentos do pessoal auxiliar...

    E, claro, os políticos centrais, ávidos de votos, tudo prometerem e tudo deram, enquanto houve dinheiro.

    Recordo uma conversa que tive com um médico de um centro de saúde, numa pequena cidade de província, há alguns anos, antes da crise, que me disse serem as horas mais simpáticas que passava no hospital as da telenovela: o acesso de utentes era quase nulo! Mas quando a telenovela acabava, começava o serviço a apertar...

    Há por aí alguém que saiba quanto ganha um médico, clínico generalista, por cada noite que faz num hospital público?
    Tentem informar-se e depois... que cada um tire as suas conclusões...




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  3. "QU´RIA QUE O MUNDO SOUBESSE
    QUE A DOR QUE TORTURA A VIDA
    É QUASE SEMPRE SENTIDA
    POR QUEM MENOS A MERECE."
    (António Aleixo)

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  4. ...uma drageia chinesa para cada corrupto...

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  5. BASTAVA O POVO SABER COMO SE VOTA CONTRA OS PARTIDOS CORRUPTOS E PORTUGAL SERIA LIMPO DA CORRUPÇÃO. VOTEM EM PARTIDOS SEM ASSENTO PARLAMENTAR SÓ ISSO TEM VALOR E PUNE OS PARTIDOS CORRUPTOS. Nos paises menos corruptos do mundo a democracia funciona porque as pessoas sabem votar e usam o voto, 90% votam... aqui só temos eleitores ignorantes por isso quem não funciona são os eleitores e não a democracia.
    A abstenção afinal obtém um resultado contrário, ao que pretendem os abstencionistas
    Por isso, o que me chateia na vossa abstenção é a falta de colaboração num trabalho importante. Não é uma questão de direitos ou deveres cívicos em abstracto. O problema é concreto. Temos uma tarefa difícil, da qual depende o nosso futuro, e vocês ficam encostados sem fazer nada.
    Isto tem consequências graves para a democracia. Quando a maioria não quer saber das propostas dos partidos, está-se nas tintas para o desempenho dos candidatos e nem se importa se cumprem os programas ou não, o melhor que os partidos podem fazer para conquistar votos é dar espectáculo. Insultarem-se para aparecerem mais tempo na televisão mentirem para agradar. Vocês dizem que se abstêm porque a política é uma palhaçada mas a política é uma palhaçada porque vocês não votam. Vocês não exercem o vosso dever de votar contra quem faz mal ao país. O vosso de dever e direito de punir os que lesam o país nas urnas.
    A culpa é vossa porque não é preciso muita gente votar em palhaços para os palhaços ganharem. Basta que a maioria não vote.. Basta abanar o pano da cor certa e, se mais ninguém vota, eles ficam na maioria. Mas se vocês colaborassem e se dessem ao trabalho de avaliar as propostas, julgar e punir os partidos que há 40 anos destroem o teu país, se os responsabilizassem pelas promessas que fazem e votassem contra os que mentiram, deixava de haver palhaços, interesseiros e imbecis na política.
    MAIS ARTIGOS SOBRE CIDADANIA E EDUCAÇÃO CIVICA, NESTE LINK, APRENDA A VIVER EM DEMOCRACIA SE QUER QUE ELA FUNCIONE::.. INFORME-SE VEJA ESTE LINK
    http://apodrecetuga.blogspot.pt/2015/10/percebam-que-abstencao-afinal-obtem-um.html#.WM_ogfmLTIU

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Olá caro leitor, obrigada por comentar... sei que apetece insultar os corruptos, mas não é permitido. Já não podemos odiar quem nos apetece... (enfim) Insultem, mas com suavidade.
Incentivos ao ódio, à violência, ao racismo, etc serão apagados, pois o Google não permite.